O melhor texto que já li sobre personagem é o seu capítulo do livro O Personagem de Ficção, da Coleção Debates. Chama-se O personagem no romance. Ao contrário de outros autores, Candido não oferece classificação dos personagens, ou fórmulas que possam ser aplicadas. Tampouco busca exemplos estatísticos entre os grandes sucessos da Literatura, como fazem os manuais de roteiro. Por outro lado, Candido analisa a evolução do personagem no romance - de onde o personagem na narrativa representativa industrial (NRI), seja em que veículo for, é tributário - pensando em sua construção de modo indissociável à narrativa, e não como uma estrutura que se pode isolar e conhecer em minúcias.
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Chama-me a atenção quando Candido evoca Gide: "Tento enrolar os fios variados do enredo e a complexidade dos meus pensamentos em torno destas pequenas bobinas vivas que são cada uma das minhas personagens."
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Tive desde pequeno certa admiração e curiosidade por sua figura, com quem partilho uma peculiaridade biográfica. Ambos cariocas, passamos parte da infância na aprazível Poços de Caldas. Num ponto, entretanto, discordamos radicalmente: ele é um fã entusiasta de Memórias de um Sargento de Milícias.
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Antonio Candido (1918). |