- Você reclama do seu namorado, mas não faz ideia do que eu tive que aturar para poder ficar do lado do seu pai.
- Mas valeu a pena, mãe?
- Bom, valeu por você e pelo seu irmão.
- Mas e o amor, o romance, a felicidade conjugal?
- Não durou um ano direito, aí começaram as brigas, aquela fase do casamento em que tudo começa a dar errado e o amor bambeia. O nosso caiu, se esborrachou de tão bambo. Depois que o Rodrigo nasceu, a situação já estava insustentável e eu preferi voltar para a casa da sua avó com vocês dois a tiracolo.
- E você nunca mais viu meu pai?
- O cretino me mandou uma carta, uns anos atrás, dizendo que estava trabalhando numa companhia de navegação, era imediato num cargueiro que iria aportar aqui no Rio dali a uns meses e queria me ver. Mas eu nem respondi.
Silêncio constrangedor, mais para a filha do que para a mãe.
- Mãe, você precisa entender que só porque a sua história de amor não deu certo, nada leva a crer que a minha não pode dar. Nem todos os homens são iguais.
- Isso você ainda vai descobrir, - ponderou a mãe, do alto dos seus muitos anos de estrada.